Paciência. A gente não nasce com ela. É uma arte a ser aprendida durante anos, décadas. Particularmente nunca fui uma pessoa paciente. "Até parece que nasceu de 7 meses" dizia minha mãe. E rogou praga: "Você vai ver só quando tiver filhos!".
Eu vi. Hoje eu senti o que é ter paciência. Foi uma epifania.
O cenário: estou com uma terrível enxaqueca devido ao banho de perfume que Fofoquinha tomou antes de ir para escola. Como o banho dela não era suficiente, ela deu um banho no irmão também. Eu fui dirigindo para a escola como se fosse cachorro, com a cara para fora do vidro. Sabe elevador quando a gente entra e está infestado com perfume de loira cinquentona? Pois é.
Mas foi na saída da escola que começou meu calvário. Dentro dela tem um tanque de areia. Matraca-Trica empaca lá pegando pedrinhas e começa a se descontrolar. Pega pedrinhas e coloca no bolso traseiro da calça. Temos que ir embora, eu insisto. Ele acaba aos prantos. Pergunto o que foi, ele responde que quer a pedra. Quer a pedra, mia ele. Pedra, que pedra? Já disse antes e repito: o moleque é meu filho, mas quando encasqueta com alguma coisa vira uma mula empacada. E chora, pedrinha após pedrinha. Digo que temos que ir embora, a escola já vai fechar. Não sei se ele está falando de alguma pedra específica, chamo a tia. A tia vem, tenta conversar com ele. Me explica que são só as pedrinhas na areia que ele quer. Eu respiro fundo. Vem a diretora. Fala para Matraca-Trica que a escola já está fechando. Ele sai, ainda soluçando e meio puxado pelo braço. A outra mão está segurando a calça que está caindo por causa do peso atrás.
Ele vai esperneando: "Eu quero a pedrinha!" até o carro, não há conversa que o faça desistir. Trinta e cinco minutos e 200 metros depois ainda estou na frente do carro com o moleque descontrolado. Tento todas as técnicas de relaxamento que conheço. Para mim mesma. Quanto tempo você acha que levou para eu convencer a pessoa a tirar as pedras do bolso de trás para ele poder sentar sem se machucar? Só digo que ele acabou com o pacote de kleenex de tanto assoar o nariz escorrendo por causa do choro. Paciência, muita paciência, foi o mantra na minha cabeça no caminho para casa. Tá certo que estava difícil ouvir meus pensamentos, Matraca-Trica-Disco-Riscado continuava na ladainha da pedrinha. Desceu do carro. Pegou de dentro da mochila, ainda dentro da garagem, pedrinha por pedrinha e colocou todas novamente dentro do bolso. Teve o cuidado de achar as que cairam no chão e rolaram para debaixo de carros ou atrás da pilastra. Este processo deve ter levado uns 10 minutos. Esta foi a viagem mais longa entre a escola e nossa casa que eu já fiz. Confesso que fiquei aliviada ao abrir a porta de casa. Entramos e Matraca-Trica começa o cerimonial de tirar as pedrinhas uma por uma de dentro do bolso para empilhá-las em cima do sofá--do sofá!!
Mas esta não foi a pièce de resistance. Após terminar ele pega todas que consegue com as duas mãos, vai para a cozinha em direção à lata de lixo e me diz:
-Mamãe, vou jogar as pedrinhas fora porque eu não quero mais.
Sorriu, fungou o nariz ainda escorrendo, fechou a tampa da lata de lixo e foi procurar o Macqueen para brincar de carrinho.
nota: Foi aí que descobri porque as janelas de apartamentos tem que ter rede: não é para as crianças não caírem. É para a gente não as atirar pela janela em dias como este.