-Atenção senhoras, vai começar mais uma reunião do "Clubinho das Mamães". Disse a loirinha de maria chiquinhas.
Ahh, se a vida fosse tão simples assim como uma casinha de bonecas no quintal e um bando de meninas brincando de lar, com tudo o que as casas de verdade tem: jogo de chá de porcelana, bebês de plástico com muitas roupinhas, chupetinha, mamadeira (mas tem algumas, como Fofoquinha costumava fazer, que insistem em dar o peito para os bebês) e carrinhos; toalha xadrez de vermelho e branco com muito babado e o mais importante: tiaras, makeup, luvas , boás e os sapatos de salto das mamães grandes.
Se a gente pensar bem, esse é o primeiro clubinho que as meninas fazem parte. Quando crescemos, fazemos parte de um clube maior e com nome sem diminutivos, inteiramente globalizado e sem restrição alguma a raça, religião,status social e....ouso dizer: sexo*.
Como mencionou uma leitora em um comentário, quando somos mães somos todas íntimas. E quer saber? Somos mesmo. Saímos da maternidade com carteirinha e direito a vaga no estacionamento do clube, mesmo que seja só para o carrinho da cria. O único documento que precisamos apresentar é um bebê. Ou dois. Ou três. Ahhh, as maravilhas (duvidosas) da inseminação artificial!
A intimidade é tanta que a gente não tem o menor pudor ou timidez em se aproximar com sorriso aberto de uma outra mulher que a gente nunca viu no parquinho para perguntar qual é a marca de fralda que ela usa ou aonde ela comprou cenouras orgânicas ali perto. Nós temos o maior prazer em dividir dicas-afinal só nós mesmas sabemos a melhor maneira de educar crianças-e ainda oferecemos outras que não estavam na lista de perguntas. Isso, na minha opinião, é uma das coisas mais doces entre sócias do clube. Dividimos nossa sabedoria duramente conquistada, tempo, sentimentos, lanches e eventualmente uma calcinha ou cueca tamanho PP infantil em caso de acidente de treinamento.
Mas a intimidade, como em todos os outros casos, é uma fruta que pode azedar rápido se não for colhida a tempo. Nós nos sentimos tão confortáveis umas com as outras que eventualmente nossas personalidades, opiniões e hormônios colidem. Nos sentimos no direito de comentar sobre como Jane Jetson está fazendo besteira em colocar Elroy para dormir tão tarde ou como é possível que não ofereçam nada mais do que batatas fritas e salsicha nas refeições de Judy-é por isso que essa menina não gosta de nada saudável, gente! Afinal, a minha maneira de educar é a melhor de todas. É aí que o clube vira Máfia: perdemos nosso precioso tempo vago julgando umas as outras. Sem má intenção ou maldade. No fim queremos o bem da família em questão, não concorda comigo?
Incrível como apesar de tudo isso não precisamos mandar colocar cimento nos pés de ninguém por causa de uma diferença de opiniões. Nossa Cosa Nostra é mais piedosa e compreensiva. Afinal, as facetas do relacionamento entre mulheres a gente aprendeu lá atrás, no clubinho. Essa dinâmica, que pode ser um pouco bruta as vezes, nós já dominamos. No fim, as crianças estão todas aí felizes e saudáveis. Todas sobrevivem para formar seus próprios clubinhos e aprender como aprendemos como é crescer como mulher e mãe.
*Sim, existem até mesmo alguns pais sozinhos que fazem parte do Clube das Mães. Existe até uma mulher que virou cirurgicamente homem e engravidou, tornando-se o primeiro pãe da história.