-Mamãe, estou com frio. Muito frio.
Fofoquinha acabou de chegar da escola e está realmente com uma cara meio caidinha. Frio com esse calor, penso eu...hummm, melhor pegar o termômetro. Bingo, Fofoquinha está com febre. E dor de garganta. Pegou de Matraca-Trica, que semana passada também apresentou os mesmos sintomas e foi hoje para a escola pela primeira vez em uma semana. Lá vou para o segundo round, como era de se esperar. Dou os remédios e atenção extra para a enferma e depois do jantar coloco um cobertor bem macio e quentinho nela para que ela possa assistir um pouquinho de TV.
Matraca-Trica que até então havia ficado quietinho no canto dele vira para mim e diz: "Mamãe, estou com muito, muito frio." Caso típico de ciúmes para o qual o melhor remédio é outro cobertor igual ao da irmã, imagino eu. Afinal, ele estava prá lá de recuperado da semana anterior.
Bem mais tarde, já deitados na cama e antes de apagar as luzes, Matraca-Trica continua a ladainha:"Mamãe, estou com frio." Já que estava tirando a temperatura de Fofoquinha para ver se a febre baixara um pouco, brinquei "Vou tirar sua temperatura também, vamos ver se o príncipe está dodói". E não é que o moleque estava com 39,8°C ? Matraca-Trica estava com febre esse tempo todo e eu não percebi.
A mãe de do Pepe Legal estava me contando um dia desses que quando ele tinha uns 3 anos ele bateu a cabeça quando caiu para trás da escada na frente do prédio. Ela colocou gelo, deu muitos beijinhos e foi cuidar do jantar. No dia seguinte Pepe Legal continuou a agir como qualquer outro menino da idade- correndo, pulando no sofá, andando de bicicleta- mas sempre se queixando de um pouco de dor na cabeça. Normal para quem caiu do jeito que ele caiu, pensou a mãe. No dia seguinte a dorzinha não passou e ela achou melhor levar ao médico para ver se não era sinusite, afinal ele estava com coriza. Somente para descobrir que Pepe Legal estava com o crânio rachado. A dois dias.
Vou te contar, esse tipo de coisa acaba com o espírito esportivo de qualquer mãe. Acaba com o dia da gente. Como assim nossa cria está _______ (preencha aqui com o problema da hora: a doença, deprimido, triste, com problemas na escola, com a cabeça/dedo do pé/nariz quebrados, alergia, etc)_______e a gente não percebeu na hora???? Que raio de mãe somos????! Merecíamos ter a licença revogada. Ora veja se pode uma coisa dessas!
Mães são movidas a culpa. Esse é ingrediente principal de uma receita simples que nos torna o que somos. Sem esse tipo de combustível para alimentar nossas almas não seríamos capazes de levantar da cama de manhã. As espécies de culpa são tantas quantos os pernilongos depois de uma chuva de verão. Também não deixam gente dormir a noite. Nesse caso, estou falando da culpa pela ignorância e falta de atenção. Como poderíamos saber absolutamente tudo o que há para se saber sobre medicina pediátrica? Além de gripe e resfriado, você sabe diagnosticar com 100% de certeza qualquer outra coisa? E olha que mesmo assim 93% das mães vai ligar- a qualquer hora do dia ou da noite- para o pediatra só para ter certeza que se trata de uma coriza passageira.
Se a gente pensar bem, não há chance nessa vida (e nem em outras, francamente) de nos tornarmos Wikipedias de salto alto. Ou de rasteirinha. Ou tênis. Ou sapatilha. Ou botas. Aliás, de sapato nenhum, e muito menos descalças. Com calças. Ou de saia. Deu para entender aonde quero chegar, certo? Não saberemos jamais tudo sobre odontologia, medicina, nem psicologia ou sequer sobre como ajudar as crias com a lição de casa em um exercício sobre a tabela periódica. Ou você vai me dizer que lembra quais são os lantanídios?
Só nos resta confiar no instinto-que, como dá para ver, falha que é uma beleza!-e na certeza de que nós vamos errar. A coisa funciona mais ou menos assim: se a gente fez, não deveria ter feito. Se a gente não fez, deveria ter feito. No fim estão todos saudáveis e felizes, procurando umas canetinhas para fazer alguns desenhos na parede da sala. E nós, colecionando cabelos brancos precocemente.
Um comentário:
Concordo, concordo, concordo. Culpa! Esse deveria ser o sobrennome de todas as mulheres depois que se tornam mães. É incrível, mas são raros os dias em que não me sinto culpada por algo que fiz ou deixei de fazer por/com o meu picototoco. Recém conheci teu blog, por indicação de uma conhecida tua, e adorei!!! Pensei que eu era uma aberração por não considerar a maternidade "um mar de rosas" mas vejo que tenho uma "alma gêmea" (he, he, he). bjs
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