domingo, 30 de outubro de 2011

foi bom enquanto durou



Começou nove anos atrás quando sai da maternidade com um pacotinho cheiroso e com olhos e boca completamente desproporcionais ao tamanho do rosto. Ela parecia um mangá.
Pacotinho cresceu. Cresceu demais para os gráficos dos consultórios pediátricos, sempre acima dos 100%. Aprendeu a andar, a dizer "não" e a mandar beijinhos com a mão.
Entrou para a escola, deu trabalho para se separar de mim. A hora da despedida era sofrida e cheia de lágrimas. Um escândalo. 
Nem porta trancada a impedia de vir dormir na cama de casal, agarrada no meu pescoço. Acordei inúmeras vezes levando tapa na cabeça ou joelhada no estômago.
Fofoquinha queria ser como a mamãe: as mesmas roupas, penteado e achava que poderia pintar as unhas. Nananina. Fez vítimas muitos batons e sombras que cheguei tarde para salvar do cruel destino: muito sabão e água. No rosto, cabelo, pia e espelhos. Meus saltos altos foram mais felizes, gritavam alto por socorro: toc, toc, toc. Felizmente eu chegava a tempo de impedir possíveis acidentes. Com os sapatos, evidentemente.
Covarde em enfrentar novos problemas, Foquinha sempre precisou de apoio e um bom empurrão, daqueles bem dados. Mamãe esteve presente em todas essas situações, segurando a mãozinha ao mesmo tempo que empurrava com o braço livre.
Administrar brigas e preferências do seu círculo de amizades é tarefa árdua: em um dia estão todas rindo, no outro uma brigou com a outra e ai todas tomam partido. Rola muita briga. Elas ficam magoadas, sentidas que só. Mamãe está sempre de braços abertos e caixinha de kleenex pronta para secar lágrimas, ouvir e aconselhar. 
Um desses sábados, em uma atividade para crianças daquelas que é boa demais para adultos bobos como eu deixarem passar, fui brincar também, para deleite de Matraca-Trica. Mamãe, Fofoquinha e Matraca-Trica juntos na brincadeira.
O instrutor aproveitou a chance de outro adulto no meio de 20 crianças para formar times. Foquinha, sem olhar na minha cara, foi para o time do "tio". Assim, sem mais.
Minha própria filha no time adversário. Que, diga-se de passagem, perdeu a competição.
Na volta para casa, perguntei porque ela não havia ficado no nosso time. Eu sabia que iria ouvir essa resposta um dia, só não imaginava que seria tão cedo:


-Ah mamãe, é que eu fiquei com vergonha de você.



5 comentários:

Renata Marques disse...

Oh, fiquei chocada com a precocidade. Mas é assim, eu me lembro de ter vergonha dos pais, mas foi por volta dos 13/14 anos.

Roberta Lippi disse...

Nossa, deve dar uma dor quando chega essa fase, né? Nem quero imaginar!!!
Tenho mesmo é que curtir agora enquanto elas não querem sair da barra da mãe...
Beijos

Priscila Quaquio disse...

"G-zuiz" tá na pré adolescencia! Que linda, a pequenina cresceu, e o tempo passa mais rápido do que realmente esperamos! Beijos em vc e nela!

Ninon disse...

Ahh querida, não quero nem pensar como será esse dia... eles crescem rápido de mais para os padrões mamães bobonas como nós, né??

Lindo o post... daqueles que dá vontade de ler várias vezes.

Beijos.

Karina disse...

Ai que dor! Definitivamente não estou preparada para isso, e também não lembro de ter passado por esta fase.

Quando ela chegar para mim vou sentir uma dor e saudade enorme, de quando eu era apenas o que les queriam ser.

Mas é apenas uma fase.
Beijocas.