sábado, 14 de novembro de 2009

enquanto isso, na casa de detenção

Em raro momento autobiográfico eu quero contar a vocês como é minha rotina como carcereira no presídio de segurança máxima de Catanduvas.
Pois é, tem dias que me sinto assim. Sabe aquela pulga atrás da orelha que não para de incomodar só por que quando brinco de Cinderela com Fofoquinha ela quer que eu sempre seja a madrasta má? Carcereira de presídio está quase nessa categoria. A madrasta só não é mais real pela falta de passarinhos gorgeantes e ratinhos saltitantes para ajudar a esfregar o piso de mármore de meu castelo. A carcereira tem vida própria neste universo paralelo a tantos outros de tempos em tempos. Alguém há de concordar comigo depois de ler o que vou contar.
Você sabe como é quando temos que sair de casa e os cotocos querem levar 3 brinquedos diferentes-daqueles que tem pelo menos 14 partes removíveis e/ou móveis-para, digamos, o Parque da Mônica. Depois de uns 10 minutos apelando para a razão pura do argumento de que eles vão perder metade das coisas em tal lugar público, a gente se irrita. Não tem como, somos humanas. A postura muda e somente pela falta de uma farda com medalhas no peito a gente fica aquém de virar um hino fascista. Assim uma ordem inquestionável é dada para nada ser levado (desta vez, devido as circunstâncias). Fofoquinha, neste caso, leva a tralha toda de volta para o quarto. No caos que é a saída de casa, entrar no carro, colocar cintos e finalmente estar na rua, tudo vai surpreendentemente bem. Até o momento em que a menina desce do carro e noto um volume em sua bermuda de ciclista, que ela tenta em vão disfarçar puxando a camiseta para baixo. Senhoras e senhores, Fofoquinha tinha 2 filhotinhos do Littlest Pet Shop e uma bonequinha Thinker Bell, com asas. Pontudas. Na parte de trás, por dentro da calcinha. Fofoquinha veio sentada, chocando os brinquedos, sem abrir a boca para reclamar o percurso todo. Essa não foi a primeira vez, já cansei de achar até figurinhas na calcinha dela. Quando o volume não é muito, ela esconde o que precisar na parte da frente mesmo. Galochas e tênis que estão um pouco grandes também são lugares ótimos para se esconder coisas pequenas como batom, peças de jogos ou bijouterias variadas.
Matraca-Trica, por sua vez, tem em seu DNA um cruzamento de hamster e barata. Acreditando piamente que sua sobrevivência depende do armazenamento de guloseimas, ele as estoca: em suas bochechas, em sua roupa, em pequenos nichos pela casa. Cansei de achar chicletes mascados dentro de bolsos de calças e bermudas, cereal escondido cuidadosamente em baixo e no pé do sofá e a agora a última: vovó levou o moleque para o treino de esportes a pedido meu esta semana. Vovó, como todas as vovós, tinha em seu poder um saco de gummy bears e minhoquinhas equivalentes que ela presenteou Matraca-Trica e Fofoquinha antes da aula de esportes-isso tudo fiquei sabendo depois. O que fiquei sabendo na hora em que fui pegá-los é que Matraca-Trica guardou as suas (seis, eu contei) gostosuras para comer depois da aula. Na parte interna de suas meias. Uma hora de esportes ao ar livre depois com um sol de 28 graus. Get the picture? E ainda teve a pachorra de reclamar que a meia estava grudenta e a balinha com um gostinho esquisito no começo...um tanto salgada.

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