segunda-feira, 11 de junho de 2012

sobre a sabedoria da natureza


Este post é candidato ao concurso “O melhor post do mundo da Limetree” 



Dear English speaking friends,
This post is related to a local contest. If you wish to know more about it, please email me and I'll be happy to let you know what is going on.


Caso 1
Pepe Legal* não é lá muito chegado em sopa. A mãe, que é a mãe, é daquelas que fazem questão de sentar com a cria na hora da refeição e gosta de conversar, brincar e até fazer aviãozinho na tentativa de que ele pelo menos experimente uma colherada. Mediante o fiasco de tantas tentativas frustradas, ela resolve cortar a sopa do menu familiar.
Algum tempo depois Pepe Legal janta na casa da vovó. A mãe, que é a mãe, vai buscá-lo. Ela pergunta para a vovó se ele jantou direitinho e para sua surpresa, ela responde que ele bateu uma pratada de sopa e pediu mais.
O que, como assim???
Pepe Legal  vem todo contente contar:
Mamãe, hoje eu experimentei sopa e agora eu a-do-ro!

Quando você se pega sentada no azulejo frio do banheiro no meio da manhã com a cara inteira dentro do vaso sanitário colocando tudo para fora simplesmente porque enjoou com o cheiro de seu par, você tenta se manter calma pensando naquele feijão dentro de seu ventre que dentro de 7 meses vai estar em seus braços.
Mais tarde, quando não consegue mais enxergar sua virilha, seus pés estão do tamanho de mamões e está com pelos nascendo em lugares que só tinha visto antes em cartazes antigos de mulheres barbadas de circo, você tenta se manter calma pensando naquele bebê dentro de seu ventre que dentro de 2 meses vai estar em seus braços. Sim, até as hemorróidas valem a pena.
Agora que o pacotinho está em seus braços coçando a gengiva em seus mamilos rachados e doloridos, você tenta se manter calma pois está fazendo tudo isso porque ama incondicionalmente esse projeto de gente. Mesmo que ele arrancasse um pedaço de seu fígado, você não se importaria. Qualquer coisa em nome do amor. A ligação entre vocês é tão, mas tão forte que se você sai do campo de visão, o berreiro do pequeno é enorme.
Tudo bem que você tem que ir ao banheiro com a porta aberta e só pode escapulir de casa na hora da soneca dele. Você faz tudo isso porque o ama incondicionalmente.
Chega uma hora, lá pelos 18 meses, quando dá tempo de pensar um pouco sobre a vida, que você considera seriamente se valeu a pena. Essa história de aguentar piti por qualquer coisa, esse choro todo porque você tem que sair, essa coisa de não querer comer nada, as malcriações. Ainda assim você, colocando tudo na balança, conclui que está tudo bem, afinal o amor é lindo e você está educando essa coisa fofa.
Como dá para resistir à esse cheirinho gostoso de bebê? pensa você, inebriada. Sabe para quê a gente faz tudo isso, passa por todas as culpas e dores físicas?
Para ver com seus próprios olhos que eles ficam muito melhor quando não estamos presentes. Para saber como eles se comportam bem na casa dos outros, como experimentam pratos novos e param de chorar no segundo que está fora do seu campo de visão quando você os deixa na escolinha. 
Ter que ouvir de quem ficou tomando conta de seu filho que ele estava ótimo enquanto estávamos fora e foi só a gente pisar em casa que ele começou a fazer manha é demais da conta. Não é?
Esse é só o começo, fico pensando. Fofoquinha já começou a me responder como se tivesse 11 anos. Ainda vai ter o dia, lá pelo começo da aborrescência, que eles vão acordar O-DI-AN-DO os pais, coisa que vai durar longos, trabalhosos anos. E você ainda vai estar lá, esperando a criatura com um prato de comida quentinho ou saindo para buscá-la no meio da madrugada na balada, só para ouvir mais atrocidades.
Agora acredito que já tenha dado para entender a ironia do título. Já começou a questionar porque a raça humana não é ovípara? Bastava colocar alguns ovos enterrados na areia e deixar a natureza seguir seu caminho.
Conclusão:
Por mais que amemos nossas crias e queremos ensiná-los, protegê-los e ver suas conquistas, nós, as mães, só atrapalhamos.
Eles esperam pacientemente o minuto em que damos as costas para se sentirem confortáveis e seguros para dar aquele passo à frente que nós adoraríamos filmar, fotografar ou simplesmente ter a chance de encher os olhos d'água e o peito de orgulho.
Essa é uma condição da maternidade que nunca, nunca vou me conformar. Como assim a natureza por não nos ensina a lidar com os fatos da vida?

Caso 2
Dia de sol na piscina. Fofoquinha encontrou Pedrita e estavam a brincar na piscina rasa enquanto eu e a mãe de Pedrita conversávamos dentro da água. Fofoquinha me perguntou se podia ir na parte funda, ir até a outra borda, 25 metros adiante. Ela já está acostumada, respondi que sim. Fofoquinha então perguntou a Pedrita se também gostaria de ir. Pedrita respondeu que não, que tinha medo. A mãe, ao seu lado, confirmou que ela não nadava lá essas coisas.
Lá se foi Fofoquinha para um lado e a mãe da Pedrita para outro, buscar qualquer coisa lá longe em sua chaise long. Matraca-Trica quis acompanhar a irmã. Com ele eu normalmente acompanho caso ele fique cansado no meio do caminho. Levo sempre uma bóia. Ele perguntou para Pedrita se ela não gostaria de ir com ele. Ela procurou pela mãe, não a viu por perto e respondeu:
Quero sim.
Lá fomos nós, para meu espanto, até a outra borda, todos batendo os pés e ensaiando um nado crawl. A mãe de Pedrita já tinha sacado o que estava acontecendo, apertou o passo para chegar até onde estávamos. Boquiaberta, a tempo de ver Pedrita voltar por onde veio como se fosse Esther Williams.

* Para quem não conhece meu trabalho, chamo meus filhos e todas as crianças mencionadas no blog por nomes de personagens de desenho animado. São minhas crias a Fofoquinha, nascida em 2002 e o Matraca-Trica, que nasceu em 2005.



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