sexta-feira, 11 de julho de 2008

a escolha

Eu tenho uma prima que no ano passado engravidou. Quando o bebê nasceu lá fomos eu e meu marido fazer uma visita. Conversa vai, conversa vem ela me perguntou se não ia voltar a trabalhar. Ela, com os pontos da cesária ainda frescos, me dizia que iria voltar a trabalhar em um mês e que tinha planos para colocar o filho logo logo em uma escolinha-felizmente o pediatra da criança era mais lúcido e desaconselhou-a a fazer isso antes dele completar 1 ano. Meu marido olhava para mim, eu olhava para ele, ele olhava para mim e de repente surge nele um canto de sorriso maroto de quem diz:"Sei."
Você acha que acabou aí? Ledo engano. Tive que sair antes por que Matraca-Trica estava com febre naquele dia. Meu marido volta para casa e me conta que a prima não estava me reconhecendo mais, o que tinha acontecido comigo? Eu era uma mulher cosmopolita, ambiciosa (no bom sentido) estava no topo de minha carreira. Como assim eu tinha largado tudo para me tornar um Desperate Housewife (sem glamour) que só tinha olhos para minhas crias? Eu só respondi para ele: a ficha dela ainda não caiu. Ele concordou, para meu alívio.
Outro dia encontrei a prima, por acaso, num café perto de casa. Ela estava com o filho. Eu, que não deixo nada barato, perguntei como ia a vida, principalmente o trabalho. Ela me respondeu que havia sido saida do emprego e estava com dor no coração de ter que procurar outro. Não queria ficar longe do filho. Comecei a rir e dei os parabéns pela ficha que demorou um tiquinho para cair mas caiu. Ela não entendeu nada e contei que nunca tinha esquecido da tal visita e da conversa.
Bem vinda ao clube!
Cá entre nós, depois que a gente tem filho, só quer ficar lambendo a cria. Não dá mais vontade de trabalhar nem de se ausentar por tanto tempo de casa. 
Mas a gente se cobra. Eu era aquele mulherão todo, aonde ela foi parar? Debaixo da camiseta manchada de papa não está. Nem debaixo do Lego. Dentro do carrinho? Quem sabe do outro lado do espelho?
Não bastasse a própria cobrança, as outras mulheres também ficam no seu ouvido: se você trabalha fora é uma mãe desnaturada. Se não trabalha está precisando largar o curso de ikebana e a yoga e arrumar alguma coisa para fazer, ora essa. 
Ninguém chega a um acordo e umas julgam as outras o tempo todo. 
Nós também não chegamos a um acordo conosco mesmas. Queremos um tantinho de cada. Não dá para ter tudo? Como assim? Quando pergunto, ouço a mesma resposta (parece concurso de Miss):"Eu queria mesmo era trabalhar meio período, em casa." que soa como "Eu quero a paz no mundo, que todos reciclem para salvar o planeta e o último livro que li foi O Pequeno Príncipe."


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