sexta-feira, 15 de maio de 2009

lalaland

Fofoquinha mudou-se. Assim, sem grandes alardes. Não faz muito tempo. Antes ela passava um tempinho curto, quase imperceptível fora e depois voltava. A vida continuava. Começou a sair mais vezes. E mais. Sua ausência foi crescendo e os segundos viraram minutos. Não senti falta de nenhuma de suas coisas, ela não levou absolutamente nada dela. Nem a roupa do corpo. aliás, nem senti falta dela por algum tempo. Não sei aonde anda a educação dessa menina: não avisa que vai, não pede para ir e não diz quando vai voltar.
Ela vem nos visitar de vez em quando. Muito de vez em quando. Quando está presente, me conta que foi para uma terra mágica, só dela: Lalaland. Lá ela é princesa, mora em um castelo e passa o dia no jardim com fadas, unicórnios e príncipes. Cuida de bebês dinossauros, dirige carros cor-de-rosa e quando entra no mar vira sereia. Lê álbum de figurinhas para coelhos, gatinhos e a Pucca.
Sim, Lalaland fica em um universo paralelo. Não poderia ser diferente. Todos nós temos um conhecimento básico de física quântica que aprendemos em filmes de ficção científica. Sabemos bem como é esse tipo de viagem. A noção de tempo nesses lugares é completamente diferente. Em Lalalad o tempo passa muito rápido. Mas por aqui é como se ele tivesse parado. E tem mais: apesar de todo o desenvolvimento tecnológico, a linha de comunicação entre os dois universos ainda está engatinhando. Antigamente a gente ligava para a telefonista e pedia a ligação. Desligava o telefone e esperava que ela ligasse, meia hora mais tarde, com a chamada. Assim é entre Lalaland e aqui: eu chamo, chamo, chamo e, com sorte, meia hora depois sou atendida. Voltando ao assunto do outro post (noia), é por isso que as mulheres falam 3 vezes mais do que homens. Porque entre outras coisas chega um dia em que as crias mudam-se para um mundo mágico paralelo e nós deste lado temos que administrar a vida, no horário em que as coisas tem que acontecer: arrumou o quarto? fez a lição de casa? tomou banho? Lavou bem o bumbum? Escovou os dentes? Deixa eu ver. Já está pronto para sair? Como assim ainda não colocou o sapato?? Estamos atrasados! Pegou o casaco?
Será que isso é um treino para a aborrescência? Deve ser.
Um dia nossos filhos vão sair de casa. É inevitável- e se não sairem, vai chegar o dia em que a gente tem que chutá-los para fora do ninho sem dó nem piedade. Quer eles queiram, quer não. Mas começar assim cedo é para deixar qualquer mãe num mau-humor tão profundo, numa frustração tão grande que tem horas que a gente tem vontade de dar a cria de presente para a primeira cigana que passar na rua. Ou não dá?


Um comentário:

Flavia Nesi disse...

Xará,
perdoe a intimidade, mas mães quando dentro deste universo são todas "amigas", ou não? Vc tb não se sente muito íntima de outras quando estamos exercendo nosso lado mãe; parece que nos atraímos só pelo simples prazer de expor a cria ou enaltecê-la. Enfim, tudo isso pq lendo a Pais e Filhos te achei. E logo que te li me identifiquei; adorei seu texto, suas idéias, seus achados e os apelidos das crias. Vou virar cliente; vc já está nos favoritos. Felicidades pra vc e sua matéria-prima. Bjs, Flavia Nesi.