quinta-feira, 21 de outubro de 2010

dilema e gastronomia


-Venham almoçar, crianças! Lavaram as mãos?
Logo vieram Matraca-Trica, Fofoquinha e Smurfete para a mesa. Fofoquinha convidou a amiguinha para brincar depois da aula. Fofoquinha se sentou à minha esquerda e Matraca-Trica à minha direita. 
O almoço era comidinha caseira em homenagem de nossa convidade de honra: arroz, feijão, salada, bife e ovinhos de codorna. Eu também tenho um chato em casa que não experimenta nada, então resolvi matar dois coelhos com uma cajadada só. Para as gourmets (Mamãe e Fofoquinha) havia um prato thailandês, de carne com pimentão, gengibre e outras especiarias.*
-O que você quer, Smurfete?- Perguntei.
- Arroz e ovinho, tia.- Ela me respondeu.
-Não quer uma saladinha, nem um bife ou feijão?
-Não gosto.
Ainda insisti na história e coloquei um pedacinho de bife no prato dela. 
Fato é que essa não é a primeira vez que isso acontece e com certeza não vai ser a última. Tá certo que eu não espero que as outras crianças tenham o mesmo paladar aventureiro que eu e Fofoquinha. Eu sei que elas estão mais para a negação em pessoinha sentada do meu lado direito.
Perguntei o que a Smurfete costuma comer na casa dela, para fazer da próxima vez que ela vier, pois claramente meu menu não agradou a visita.
-Em casa a gente come nuggets, batatinha de carinha e macarrão.

Senhoras e senhores, apresento aqui o meu dilema. As duas primeiras opções nunca entraram em casa, são reservadas somente para festas de aniversário. Da última ninguém escapa. 
Até onde se vai para acomodar as visitas quando existe uma divergência assim tão grande de filosofias? Filosofia sim, pois se tem um assunto (outro) que eu levo muito à sério é gastronomia- se vocês leram a página de apresentação dos contribuintes da Vogue Kids, sabem que a minha resposta para o que eu queria ser na vida era Chef
Serei fadada a fazer macarrão para o resto da vida em dias de brincadeira? O pior é que nem me aventurar em molhos vai ser possível. Alle vongoli? Nem pensar. Com salmão defumado e crème fraîche? Rá.
E aquelas histórias de coisas que as crianças experimentam na casa das outras e acabam gostando? Minha irmã aprendeu a comer bacalhau só na casa da amiga, história que minha mãe não se cansa de contar. 
O que faço com as alcachofras agora?


* Esse primeiro dilema eu resolvi mais ou menos. Mais para o menos. Não vou deixar de comer o que gosto por causa do chato. Dependendo do meu humor e do grau de exoticidade do prato, faço uma alternativa mais familiar para quem não quiser experimentar.

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